sexta-feira, 14 de novembro de 2014

AQUELA VIAGEM


AQUELA VIAGEM!     AO ENCONTRO DO AMOR...

Juliana estava em frente ao notebook, olhos fixos na tela e no belo rosto masculino, de lindos cabelos castanhos, boca sedutora e sorriso ausente.   Vez ou outra, sua mão acaricia suavemente o rosto na tela e os olhos da figura marcante parecendo fixos nela, e acompanhando seus movimentos. Demora-se naquele ritual doloroso, até que as lágrimas escorrem pelo seu rosto e se entrega num pranto compulsivo.
- De que adianta?  Não está olhando para mim!  - grita, a voz embargada pelo choro.
- Que vou fazer para te tirar da minha cabeça?  Não quero mais pensar em ti. Como posso te desejar ainda?  Você foi um canalha! E eu vou enlouquecer. Baixa a tela fechando o note e se atira no sofá, escondendo o rosto numa almofada, como a pedir socorro, para aplacar a saudade e o cruel sentimento de rejeição que a devora, desde que recebeu aquele e-mail.
Juliana Megavich, meses atrás, apaixonou-se perdidamente por um amigo de bate-papo no Facebook.  Falavam todos os dias, trocavam músicas e muita informação. A empatia foi aumentando dia a dia, quando acordava, lá estava no chat, um “bom dia” caloroso.  Falavam a tarde e a noite também. E a amizade se transformou em desejo.  A sensação era física, sentia seu corpo dolorido e arrepiado cada vez que se falavam.  Não aguentando mais resolveu comentar o que sentia.  Ele ficou surpreso e pareceu gostar do que provocava nela.  Então, começou a pedir fotografias e para que ela instalasse um aplicativo para poderem falar por telefone, via internet, ela no Brasil e ele na Espanha. Demorou a tomar providências e numa bela noite, muito agradável, ele simplesmente sumiu, apagou o face, sumiu tudo.
Durante dias e dias, Juliana tentou entrar em contato, não sabia o que estava acontecendo, enviou vários e-mails, e não recebia nenhuma resposta, nenhum sinal. E decidiu escrever uma linda carta de amor, como última tentativa de contato.  Agora, sabia que estava apaixonada, sentia a falta dele, eram só palavras escritas no chat, mas era tudo o que tinha. Enquanto escrevia a carta, percebeu que a ausência dele poderia ser pela falta de confiança dela, em não enviar as fotografias e instalar o aplicativo. Pediu perdão pela demora em solucionar esse impasse.  Precisava de notícias, estava desesperada sem saber o que havia acontecido.
Naquela linda carta de amor, desnudou seu coração e falou de todos os seus sentimentos por ele, sem entender muito bem como aconteceu, de apaixonar-se por alguém sem ver, sem tocar, sem ouvir a voz, sem sentir o cheiro.  Mas sentia o desejo aflorando em seu corpo, todos os dias e o dia todo quando pensava nele, ou quando sonhava.  Despediu-se pedindo perdão pela falta de confiança, mesmo sabendo que ele não a perdoaria, sabia que era tarde demais. Enviou a carta e ficou na esperança de receber notícias, mesmo que não a perdoasse de imediato, acreditava que voltariam a se falar.
Os dias passavam devagar e nada acontecia.  Continuava sem notícias dele, sem saber o que havia acontecido para sumir repentinamente. Mas alimentava a esperança de que de alguma forma ele faria contato.  Um dia naquela semana, ao abrir o seus e-mails, deparou-se com um especial, e custou a acreditar, que Nicholas Castell o havia enviado em resposta à sua carta.
Abriu o e-mail e à medida que ia lendo, as lágrimas rolavam silenciosas pelo seu rosto.  Quando chegou a última linha, voltou ao início e leu outra vez e outra, não conseguia acreditar no que estava escrito, e gritou:
- Canalha! Canalha e covarde! Como pode me excluir do seu perfil no Facebook? Se não queria nada, não desejava nada, podia ter dito, podia ter falado comigo. Eu o deixaria em paz! Uma raiva furiosa tomou conta dela, queria esbofeteá-lo naquele momento, pela covardia do ato infame.
Mas, o tempo foi passando, e a raiva se apagando. O amor que sentia parecia mais forte e os sonhos mais frequentes. Continuava alimentando os sentimentos, sem saber o que fazer.  Incrível que ainda havia um resquício de esperança, uma determinação de reverter o que havia acontecido.  Mas não sabia como fazer e nem o que poderia ser feito.  Alternava momentos de raiva, pelo desprezo e rejeição, e outros de perdão pelo ato canalha que o afastou dela.
Nada melhor que o tempo para acomodar um coração partido e curar, parcialmente as feridas.  E assim, a mente fica liberada para pensar em tudo o que aconteceu e talvez, quem sabe, procurar uma solução.  E Juliana passou a sonhar acordada.  E seus sonhos a levavam para longe dali. Devaneios e ilusões de uma mente apaixonada.
Sonhava em encontrar uma linda casinha isolada, para onde pudesse levar o seu amor. Ela sonhava acordada e enquanto dormia, e os sonhos começaram a se misturar e Juliana não sabia mais o que era real e o que era sonho.  Então, num feliz momento de lucidez, decidiu tomar cuidado e não se envolver demais com seus devaneios.  E resolveu tentar esquecer o que sentia pelo Nicholas.  Não queria mais pensar nele, e se entregou ao trabalho, com o firme propósito de esquecer aquele sentimento que nutria por ele.  E às vezes pensava no desejo que aflorava em seu corpo, cada vez que se lembrava do seu rosto e das suas palavras, das músicas que ele gostava e que ela passou a ouvir.  Podia controlar os sonhos quando estava acordada, mas quando dormia, sonhava muito.
Depois de cinco meses, onde chorou, sofreu, foi rejeitada e desprezada, descobriu que estava muito bem e sentia-se forte e pensava estar pronta para esquecer. Enganou-se!    Sentia a falta dele, saudade de conversar, e percebeu que o que sentia era tão forte que até poderia sentir o cheiro dele, sem nunca ter estado com ele.  O perfume de seus cabelos macios e sedosos, sem nunca ter tocado.  Não conseguia explicar, se realmente estava apaixonada ou era uma obsessão doentia.
Precisava de uma resposta, não suportava mais o desejo que a dilacerava, a vontade de beijar aquela boca sedutora e sentir as belas mãos em seu corpo. Talvez se eles tivessem se encontrado, poderia ter se decepcionado, e aí o teria esquecido com facilidade.  E só existia uma maneira de buscar a resposta.  Precisava encontra-lo pessoalmente.  Deveria fazer aquela viagem! Uma viagem ao encontro do amor!
Dedicou-se a fazer planos para uma possível viagem para a Espanha. Nem sabia direito onde Nicholas residia.  Mas estava determinada a encontra-lo, e a internet poderia auxiliar na busca pelo munícipio de Alboraya, na Província de Valência. Consultou os mapas do Google para se localizar, verificando que a cidade ficava muito próxima de Valência. Não sabia se poderia ir direto ou deveria ir para Madri e ficou o resto do dia fazendo planos e pesquisando.
Ao final de 48 horas, Juliana estava com seu roteiro de viagem concluído. Pegaria um voo para o Rio de Janeiro e de lá , um voo internacional direto para Valência. De Valência, poderia tomar a Linha Três do Metrô, porque o município de Alboraya estava ligado à área metropolitana de Valência.  Economizaria alguns trocados, porque a sua grande viagem ficaria com a conta muito salgada. Para localizar a residência de Nicholas, teria que tomar um taxi, não poderia ficar circulando a pé. Decidiu fazer reserva no Hotel Olympia Valência, que fica perto da praia em Alboraya.  Seria muito bom, dependendo do resultado do encontro, poderia se afogar no Mar Mediterrâneo.
Verificou o passaporte e demais documentos, para não ter surpresas desagradáveis. Consultou a internet para saber o clima na região, para fazer suas malas, não gostaria de levar muita bagagem, não queria pagar excessos, mas também não gostaria de precisar gastar com vestuário na Espanha.  O motivo daquela viagem era encontrar ou não o amor, não estava viajando para fazer turismo.
Juliana chegou à Valência numa linda manhã, e tão logo desembarcou, saiu do prédio do aeroporto para ver o céu lindamente azul e o sol brilhando.  Sentia-se muito feliz.  Informou-se da estação do metrô e rumou para lá, seguindo o seu roteiro.  Desceu na estação em Alboraya, e respirou fundo.  Tomou um taxi para o hotel, onde iria descansar e se preparar para ir ao encontro de Nicholas.
            Após um banho relaxante, dirigiu-se ao restaurante para uma refeição e pensar como iria fazer para bater na porta da casa dele.  Entrou em pânico, e se ele tivesse mentido para ela e fosse casado? Tudo poderia acontecer, até encontrar uma senhora Castell.  Resolveu que faria uma investigação prévia, mas não desistiria sem tentar.
Juliana seguiu para a residência de Nicholas, o taxi a deixou próxima da casa, em frente a uma Loja de Doces.  Entrou na loja e fez algumas perguntas para uma simpática moça no balcão.  Descobriu que naquela casa vivia um homem sozinho.  Quase saiu correndo em direção à casa.  Controlou-se e foi andando até a porta e bateu.  O corpo tremia e suas pernas pareciam que não aguentariam o seu peso.  A porta abriu e ela o viu, igual na fotografia, ele ficou olhando curioso, a moça na sua frente, até que ela fala:
- Olá Nicholas? Está me reconhecendo?  Estou diferente da fotografia, mas sou a Juliana, não vai me convidar para entrar?
Nicholas fica visivelmente surpreso, mas afasta-se para lhe dar passagem, e ela entra na casa.  Ele fecha a porta e a convida para sentar no sofá em frente.
- O que você está fazendo aqui?  Como... Por que ... Você veio? Depois que eu...
- Não diga nada, eu sei o que você fez.  A verdade, eu vim aqui buscar a verdade sobre o que eu sinto por você.  Não aguento mais a saudade que sinto dentro de mim e o desejo de ter você.
Ele se afasta até uma janela e fica olhando para fora durante um tempo, então se vira para ela e pergunta como vai saber a verdade.
- Não nos conhecíamos pessoalmente, então pensei que se viesse aqui e olhasse para você, eu saberia a verdade, poderia me decepcionar e tudo ficaria resolvido.
Nicholas se aproxima dela, e durante alguns instantes fica olhando-a, sem saber o que dizer.  Então, ela chega bem próxima, e lhe diz:
- Você sequer imagina, quantas vezes eu olhei sua fotografia e desejei beijar esta boca, tocar em seu rosto e em seus cabelos, ou ser abraçada por você.  Sua voz estava ofegante, percebia-se a emoção e o desejo e de repente ele a abraça e a beija.  Juliana coloca os braços ao redor de seu pescoço, afaga seus cabelos, toca em seu rosto, saciando a vontade do corpo dele. Separam-se e ele parece ficar constrangido e volta a olhar pela janela. Juliana permanece no mesmo lugar, de olhos fechados, como que saboreando aquele beijo e passa a língua sensualmente pelos lábios .
- E então?  Não está decepcionada?  Fale, diga alguma coisa.  Acredito que você perdeu o seu tempo vindo aqui.
- Não.  Eu fiz a coisa certa. Só gostaria de saber por que você me afasta?  Qual o problema? Sou eu? Claro que sou eu!  Puxa, fiquei tão louca que não me dei conta da verdade. Realmente, você não precisa gostar de mim. Nós éramos amigos e bastava para você e eu me apaixonei e estraguei tudo.  Desculpe... Vou embora! Foi um engano!   Lentamente, vai andando em direção a saída e fica parada, olhando para a porta, para se recompor ou acreditar no que acabou de falar.
- Não vá! Se você veio em busca da verdade, não acredito que apenas um beijo a satisfaça.  Fique!  Ele finalmente sorri para ela.
Juliana não tem certeza se escutou ele pedindo para ela ficar, e vai se virando lentamente, e se depara com o lindo sorriso que nunca havia visto e também sorri, larga a bolsa e corre em sua direção e para os seus braços.
Mais tarde, sentados no sofá abraçados, ela fala enquanto acaricia o lindo rosto tão desejado:
- Escrevi uma linda carta de amor para você, depois passei meses sonhando em lhe encontrar e precisei fazer aquela viagem! A viagem ao encontro do amor! Amo você!



Nenhum comentário:

Postar um comentário