quinta-feira, 23 de outubro de 2014

TRILOGIA AMOR VIRTUAL - PARTE II - EU TENHO UM SONHO



TRILOGIA AMOR VIRTUAL – PARTE II

EU TENHO UM SONHO...

            Em uma bela manhã de sol, dentro de uma Agência dos Correios, Juliana está impaciente em uma fila enorme.  Deseja chegar logo ao balcão de atendimento, ou poderá mudar de ideia e não despachar o envelope.  Para ocupar o tempo e se distrair, passa a observar o local onde os envelopes são coletados.  E fica se perguntando, como fazem quando perdem algum envelope, e se for importante para a pessoa que o despachou?  Tipo assim, um caso de vida ou morte, como a carta que está enviando para o Nicholas?   Complicado ficar esperando numa fila, quando se precisa despachar urgente um envelope. 
            Finalmente chega ao balcão, onde uma moça lhe sorri e pega seu envelope, conferindo os dados e inserindo no computador que vai emitir o comprovante. Decidiu-se pelo serviço de SEDEX, encomenda rápida, que em 48 horas estará chegando à Espanha.  Verifica com mais atenção onde os envelopes são armazenados, e devia estar com a fisionomia preocupada, porque a moça lhe diz que o serviço é seguro e o envelope chegará ao seu destinatário. Juliana sorri se sentindo incomodada.  Efetua o pagamento da remessa, apanha seu comprovante e o recibo do despacho e se afasta, saindo imediatamente do local.
            Na rua, sente aquele maravilhoso sol de primavera e sorri, pensando que com o sol aquecendo seu corpo, a esperança parece voltar para sua vida.  Apanha a condução e retorna ao seu apartamento.  Ao chegar dirige-se ao notebook e abre no arquivo do Nicholas, das fotografias dele. E fala com a tela:
- Ah meu amor!  Em breve você receberá minha carta, e tenho certeza que vai responder, não acredito que me deixará sem saber o que aconteceu.
            Abre o Facebook e tenta acessar o perfil dele.  O sistema lhe diz que está indisponível.  E fica olhando fixamente para a tela, sem vontade para trabalhar, sem vontade para nada.  E só pensa nele, na saudade que sente, e o que vai fazer para suportar aquela ausência.  Seus pensamentos a levam para os momentos felizes, onde se falavam todos os dias, da amizade, do carinho, da confiança, dos segredos compartilhados.  Pensa nas palavras que ele escrevia, que a deixava perturbada e o corpo arrepiado.  Na presença marcante daquela fotografia, aquele rosto tão desejado, os cabelos revoltos e suas mãos querendo tocar. Uma força arrebatadora emanava daquele rosto, deixando-a perdida ali, por horas e horas a admirá-lo.
            Ela sabia que precisava reagir, voltar à vida. Mas para que? Queria ele, falando com ela todos os dias, não precisava de mais nada para ser feliz, e agora tinha nada vezes nada.  Todos os dias seguia uma busca na internet, quase um ritual. E a resposta era sempre a mesma: não localizado, não encontrado. Mas precisava fazer, era tão importante quanto respirar.  Quase não dormia, e quando acontecia sonhava com ele, e também sonhava acordada.
Seus dias passavam mecanicamente.  Realizava suas tarefas na internet, porque o trabalho ainda a mantinha com a mente ocupada e era o único momento que “quase” não pensava nele. O tempo andava lentamente, e nenhuma notícia chegava para acalmar seu dilacerado coração. Mas alimentava a esperança de que de alguma forma ele faria contato.  Um dia naquela semana, ao abrir os seus e-mails, deparou-se com um especial, e custou a acreditar, que Nicholas Castell o havia enviado em resposta à sua carta.  E-mail?  E por que não respondeu os e-mails que eu enviei?
Abriu o e-mail e à medida que ia lendo, as lágrimas rolavam silenciosas pelo seu rosto.  Quando chegou a última linha, voltou ao início e leu outra vez e outra, não conseguia acreditar no que estava escrito, e gritou:
- Canalha! Canalha covarde! Como pôde me excluir do seu perfil no Facebook? Se não queria nada, não desejava nada, podia ter dito, podia ter falado comigo. Eu o deixaria em paz! Uma raiva furiosa tomou conta dela, queria esbofeteá-lo naquele momento, pela covardia do ato infame.
- Covarde!  Homem não age dessa maneira!  Canalha! Covarde infame! Como será que ele fez?  Estávamos indo longe demais?  Indo aonde seu inútil covarde? Bastava me procurar e dizer que não queria mais falar comigo. Mas não, tinha que agir como um desgraçado.  E seu corpo tremia pelo choro compulsivo.  Estava morrendo de pena de si mesma, de ter sido enganada, e durante tantos dias, ficou ali, alimentando a esperança de voltar a falar com ele. Que tudo não passava de um engano, um erro na internet.
            Saiu do Gmail e foi para o Facebook procurar o procedimento de bloqueio.  Não sabia onde estava e clicava em todos os sinais que via pela frente.  Até que apareceu na tela: Como faço para impedir alguém de me incomodar? Você pode bloquear uma pessoa para desfazer a amizade com ela e impedi-la de iniciar conversas com você ou ver as coisas que você publica na sua linha do tempo.  Adicionar nome ou e-mail. Juliana ficou perplexa lendo aquelas palavras, sem conseguir acreditar em tamanha infâmia.
- Desfazer amizade?  Como pôde? Que porcaria de amizade que precisa de bloqueio?  Não é nada, não é amizade.  E logo depois que eu falei que o queria.  Canalha e covarde!  Ela gritava, e chorava; chorava mais e gritava, parecendo ser um pesadelo e que a qualquer momento acordaria e a vida estaria igual como antes.
            Assim permaneceu durante algumas horas, chorando e se lamentando.  Seu coração que já estava destroçado, agora sangrava.  O golpe fora muito forte e o desprezo e a rejeição é o que existe de pior.  Que nos joga para baixo, tão baixo, que fica quase impossível visualizar uma saliência, por menor que seja, para se agarrar e tentar subir. Depois de um longo tempo, levantou-se e se arrastando seguiu para o banheiro, onde lavou o rosto vermelho e inchado de tanto chorar.  Quando regressou à sala sua fisionomia marcada pelas lágrimas, estava endurecida pela raiva. E seguiu decidida para o notebook, dando a impressão de que iniciaria uma guerra, naquele momento.
            Verificou minuciosamente o e-mail dele, respondendo em seguida, chamando-o de insignificante e que ficasse com a sua vidinha medíocre.  Mas as lágrimas voltaram, não conseguia se afastar daquelas palavras, a maneira como escrevia era muito particular.  Fechou tudo e se jogou na cama, ficaria lá até secar, até chorar todas as suas lágrimas.
O tempo foi passando, e a raiva se apagando. O amor que sentia por ele parecia mais forte, e os sonhos se tornaram frequentes. Continuava alimentando os sentimentos, a saudade, o desejo, e não sabia o que fazer.  Incrível que ainda havia resquícios de esperança, uma determinação de reverter à decisão de Nicholas. Mas não sabia o que deveria fazer. Alternava momentos de raiva, pelo desprezo e rejeição, e outros de perdão pelo ato infame que o afastou dela. Poderia perdoar, e gostaria de esquecer.
Nada melhor que o tempo para curar as feridas e acomodar um coração destroçado.  E assim, a mente fica liberada para pensar em tudo o que aconteceu e talvez, quem sabe, encontrar uma solução, uma maneira de tudo ser como antes.  E Juliana passou a sonhar acordada.  E seus sonhos a levavam para longe dali. Devaneios e ilusões de uma mente apaixonada.
Sonhava em pegar um avião, buscar Nicholas na sua casa e leva-lo para uma linda casinha isolada.  Longe de tudo e todos, onde eles pudessem viver de amor e desejo. Ela adoraria poder cuidar dele, das coisas dele e se dar inteira para ele.   Ela sonhava acordada e enquanto dormia, e os sonhos começaram a se misturar e Juliana não sabia mais o que era real e o que era sonho.  Então, num feliz momento de lucidez, decidiu tomar cuidado e não se envolver demais com seus loucos devaneios.  E também resolveu tentar esquecer o que sentia pelo Nicholas.  Não queria mais pensar nele, e se entregou ao trabalho, com o firme propósito de esquecer aquele sentimento tão doloroso. Amor não dói.  Amor cura. Às vezes pensava nisso.  E às vezes também, pensava no desejo que aflorava em seu corpo, cada vez que se lembrava do seu rosto e das suas palavras, das músicas que ele gostava e que ela passou a ouvir.  Podia controlar os sonhos quando estava acordada, mas quando dormia, era impossível.  Sentia as belas mãos em seu corpo esonhava que estavam vivendo um amor pleno e intenso.
Depois de cinco meses, onde chorou, sofreu, foi rejeitada e desprezada, percebeu que estava muito bem, sentia-se forte, não pensava tanto nele, achou que estava pronta para esquecer. Enganou-se!  Ainda sentia a falta dele, saudade de conversar. O amor era tão forte, que se deu conta que poderia sentir o cheiro dele, da sua pele, sem nunca ter estado com ele. Sabia que seus perfumados cabelos revoltos eram macios e sedosos, e parecia que suas mãos já haviam tocado.  Olhava para a fotografia e sonhava estar com ele. Estava cheia de dúvidas, se o que sentia por ele era amor ou uma obsessão doentia.
            Juliana tinha momentos reais, onde aceitava o convite de amigos para sair e se divertir.  Sair ela até saia, mas dizer que se divertiu, não poderia.  Mas eles faziam muitas perguntas e não pretendia contar o seu segredo para ninguém.  Iriam dizer que ela era maluca, que estava doente, ninguém se apaixona apenas por uma fotografia. Era seu segredo.  E ninguém ficaria sabendo que ela tinha uma vida dupla.
            Durante o dia ela trabalhava normalmente, se envolvia com o trabalho e afastava o seu pensamento do Nicholas.  Mas a noite, ela se jogava no mundo dele, ouvia as músicas que ele gostava, olhava as fotografias e fazia planos.  Sonhava em encontrar com ele, leva-lo para uma casinha isolada para viverem felizes.
            Juliana estava decidida a economizar cada centavo, e resolveu que não sairia mais com os amigos para evitar os gastos.  Não precisava de roupas, trabalhava em casa e compraria somente o estritamente necessário. Nas suas horas de folga começou a pesquisar locais mais ou menos isolados, dando preferência por praias, com casas simples, sem luxo algum.Tinha um sonho, e se esse sonho lhe dava forças para viver, ele seria alimentado todos os dias.  
            Ainda se perguntava o que ele tinha de tão especial, para que ela se envolvesse tão profundamente.  Nunca se encontraram pessoalmente, não tinha voz, não tinha cheiro, não tinha gosto.  Lembrou-se de quando se conheceram, do inicio da amizade, da empatia recíproca.  Recordou todas as conversas, olhou o que ainda tinha de mensagens, pois num momento de raiva havia excluído quase tudo.  A maneira de escrever era encantadora, como colocava as palavras numa frase, o sotaque se acentuava e tudo virava música.  O belo rosto de traços marcantes, os cabelos revoltos, a boca sedutora de sorriso ausente.  Não tinha nenhuma fotografia onde ele sorria.  Todas eram sérias, com aquela linda boca de lábios selados.
            Agora que a decisão havia sido tomada, estava se sentindo mais forte.  Nada nem ninguém iria afasta-la de seu objetivo.  Não sabia como faria mas tinha certeza que encontraria com Nicholas.  Poderia demorar algum tempo, precisaria ter paciência, mas estava se sentindo bem e tinha um sonho.  Tudo poderia acontecer, até esquecer-se dele, acabar o que sentia, da mesma maneira que começou, poderia terminar. Se para ser feliz precisava sonhar, com certeza sonharia muito, viveria de sonhos, até o dia em que pudesse realizar o sonho que tinha, de encontrar o seu amor!
           
Autora
Nell Morato



3 comentários:

  1. Nenhum comentário. E daí? Não faz a menor diferença, o importante é que o conto já foi incluído na Coletânea da Editora e publicado... Sei que muitas pessoas deram uma espiadinha...E em breve vou divulgar a parte III da Trilogia Amor Virtual = Aquela Viagem (onde a Juliana vai em busca do amor)!!

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  2. Puxa vida!... Do facebook vim conhecer este blog e não imaginava encontrar um blog feito por belas, cativantes e simpáticas mulheres, além do que, além de ter adorado o blog, fiquei admirado em ler um Conto primoroso como esse. Parabéns a todas. E quando puderam visitem o meu.
    Abraços.

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  3. Amiga difícil é dizer alguma coisa após ler este belíssimo trabalho!
    Tenho a felicidade de ler antes e isso me coloca na posição de dizer vale seguir esse sonho ...
    Sonhos são momentos preciosos da vida.Parabéns pela conquista merecida!
    Suely Sette

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