quarta-feira, 29 de outubro de 2014

QUEM CONTA UM CONTO...CONTA A CINCO MÃOS - METAMORFOSE


METAMORFOSE


Metamorfose, uma transformação dolorosa, mas, necessária. O ciclo de vida das borboletas é dividido em várias fases: do acasalamento, passando pelo ovo que é colocado pela borboleta fêmea, desse ovo nasce a lagarta, que rasteja para conhecer o mundo e envolve-se no casulo, lutando para sair. Com suas asas ainda enrugadas não lhe permitindo o voo imediato, nessa transformação tão dolorosa e difícil. Mas, de repente, ela sai voando, aprende a bater as suas asas e estas a conduzirão para o alto, de onde poderá vislumbrar as mais belas coisas desse mundo e viver uma nova vida.

Em nossa vida também passamos por muitas fases, transformações profundas também acontecem: ao ser fecundado o ovócito, a vida começa no ventre materno, à mulher foi destinado o poder de gerar outros seres humanos, contribuindo para o crescimento da espécie. São nove meses de grandes mudanças e evolução, até o tão aguardado momento do nascimento. Assim como o casulo, o útero feminino a matriz transformadora da vida. Rompendo o casulo, nascemos e ao nascer, somos dependentes de cuidados constantes dos nossos pais, aprendemos a falar, a andar, a comer sozinhos, o nosso corpo sofre incríveis modificações, desde o momento da fecundação, até a sua morte. Ver uma criança descobrir o mundo, dar na vida seus primeiros passos, é divinizar este momento de transformação que acontece na vida, que nos foi dada com tanto amor. A metamorfose nos acompanha na infância, na adolescência, na idade adulta, na velhice e depois dela, com a morte, temos a libertação da nossa alma do casulo do corpo e esta voa pelos infinitos espaços.
                                                                                                                                               
Mudanças como a metamorfose, transformação e libertação, acontecem conosco no decorrer da vida. Esta nos pede movimento, e isso significa transformação. A cada instante, estamos aprendendo coisas novas, passando por novas experiências, vivenciando diferentes emoções.
Não somos a mesma pessoa que éramos há dez, vinte anos atrás. E a mudança não ocorre apenas a nível físico, mas em todos os sentidos. Passamos por situações que nos proporcionam aprendizado, e estamos sempre em busca de caminhos melhores.

Às vezes tomamos caminhos equivocados e fazemos o caminho inverso ao da borboleta, quando, nos escravizamos às paixões, aos vícios, quando deixamos de ser nós mesmos, renunciando à nossa personalidade, para nos adequar aos desejos de alguém dominador, em uma espécie de paixão obsessiva, aí deixamos de ser uma linda borboleta para nos transformar em lagarta rastejante. Mas, nada é eterno, e, um dia , essa situação passa, precisamos do casulo do sofrimento, da dor, para nos transformar. Vamos aprendendo com o tempo, a nos proteger, a criar uma película que nos resguarde dos aguilhões que ferem. Vamos nos escondendo, nos desviando e, por tantas vezes, nos consolidando na certeza de que nos basta a escolha de um caminho. Fechamos os olhos a outras estradas, trilhas favoráveis que se insinuam, mas que são desconhecidas. Até quando o casulo se rompe, a película se desfaz e precisamos exercitar as nossas asas, antes que se atrofiem. Metamorfoseamo-nos e descobrimos que a liberdade e a transformação, muitas vezes, esteve a poucos centímetros de onde pisávamos, esperando-nos, aguardando a oportunidade certeira  de acontecer, quando descobrimos que desejamos criar, mais do que copiar moldes, viver aquilo que nos interessa, nos encanta, mais do que nos adaptarmos ao que não mais nos motiva e nem acrescenta; voar e não mais caminhar a passos lentos, ou rastejar...

Eu amo as borboletas porque elas nos fazem lembrar que, na vida, tudo se transforma e nesse processo de metamorfose é preciso tempo e paciência. Estamos a cada instante renascendo e olhando para dentro de nós. Somos espíritos em aprendizagem, buscando sempre o melhor e que essas mudanças possam acontecer sempre no sentido de nos reconstruirmos e sermos melhores do que somos.

“Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses.”

(Rubem Alves.)

terça-feira, 28 de outubro de 2014

MORTE


MORTE
Vólia Loureiro do Amaral Lima


As folhas de outono caem,
Belezas amarelas,
Que voam singelas,
Levadas pelo vento.
E pelos céus se vão,
Quais pássaros em seus
Voos de verão.


Diante da efemeridade da vida,
Quedo-me em silêncio,
Pensativa.
Chegará o dia em que cairemos,
E o vento da morte velará
Os nossos olhos,
Para que assim partamos
Em aventura insólita.


E o que fica?
O que restará de nós?
Que lembranças despertaremos,
Naqueles com quem convivemos?
Lembranças são como perfumes,
Há os bons e os maus.


Não há como evitar a análise,
Do que se foi,
Do que se fez,
De quem se amou,
Ou desamou...


Será que valeu a pena?
Será que a lição foi aprendida?
Será que aproveitamos a vida?
Ou apenas passamos por ela
Sem compreender a beleza dessa lida?

Morrer é só uma parte da viagem,
Sei disso.
Morrer é voltar para casa.
E o que trazemos na bagagem?


Quando chegar minha vez,
Quero seguir com leveza,
Levando algumas coisas na mala,
Meus tesouros, minhas certezas.

Levarei em meus olhos,
O reflexo do mais belo luar,
Para que minha alma se
Adorne com a beleza calma
Da noite enluarada.


Levarei em meus ouvidos,
As risadas alegres,
Dos bons momentos vividos,
Para que minha alma se ilumine,
E brilhe como pequena estrela
No Universo infinito.


Levarei em meus lábios o silêncio,
Que será como uma canção,
Pois nele estarão guardados,
Mil poemas de amor,
E uma doce oração.

Levarei em meus braços,
Todos os abraços.
Abraços que dei,
Os que deveria ter dado,
Os levarei como se fossem rosas,
Para plantar em jardim perfumado.

Levarei em meu coração,
Todo amor que pude dar,
Amores que me fizeram rir,
Amores que me fizeram sangrar,
Amores que me fizeram sonhar,
Esse sim será o bem mais precioso
Que eu vou querer levar.

Quero partir com a certeza,
Que tudo valeu a pena,
Que fiz a coisa certa,
Que vivi uma vida plena,
Que me entreguei por completo.
Que não fui mera coadjuvante,
Mas vivi, intensamente,
No palco da existência,
Todas as minhas cenas.


27/10/2014

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

TRILOGIA AMOR VIRTUAL - PARTE II - EU TENHO UM SONHO



TRILOGIA AMOR VIRTUAL – PARTE II

EU TENHO UM SONHO...

            Em uma bela manhã de sol, dentro de uma Agência dos Correios, Juliana está impaciente em uma fila enorme.  Deseja chegar logo ao balcão de atendimento, ou poderá mudar de ideia e não despachar o envelope.  Para ocupar o tempo e se distrair, passa a observar o local onde os envelopes são coletados.  E fica se perguntando, como fazem quando perdem algum envelope, e se for importante para a pessoa que o despachou?  Tipo assim, um caso de vida ou morte, como a carta que está enviando para o Nicholas?   Complicado ficar esperando numa fila, quando se precisa despachar urgente um envelope. 
            Finalmente chega ao balcão, onde uma moça lhe sorri e pega seu envelope, conferindo os dados e inserindo no computador que vai emitir o comprovante. Decidiu-se pelo serviço de SEDEX, encomenda rápida, que em 48 horas estará chegando à Espanha.  Verifica com mais atenção onde os envelopes são armazenados, e devia estar com a fisionomia preocupada, porque a moça lhe diz que o serviço é seguro e o envelope chegará ao seu destinatário. Juliana sorri se sentindo incomodada.  Efetua o pagamento da remessa, apanha seu comprovante e o recibo do despacho e se afasta, saindo imediatamente do local.
            Na rua, sente aquele maravilhoso sol de primavera e sorri, pensando que com o sol aquecendo seu corpo, a esperança parece voltar para sua vida.  Apanha a condução e retorna ao seu apartamento.  Ao chegar dirige-se ao notebook e abre no arquivo do Nicholas, das fotografias dele. E fala com a tela:
- Ah meu amor!  Em breve você receberá minha carta, e tenho certeza que vai responder, não acredito que me deixará sem saber o que aconteceu.
            Abre o Facebook e tenta acessar o perfil dele.  O sistema lhe diz que está indisponível.  E fica olhando fixamente para a tela, sem vontade para trabalhar, sem vontade para nada.  E só pensa nele, na saudade que sente, e o que vai fazer para suportar aquela ausência.  Seus pensamentos a levam para os momentos felizes, onde se falavam todos os dias, da amizade, do carinho, da confiança, dos segredos compartilhados.  Pensa nas palavras que ele escrevia, que a deixava perturbada e o corpo arrepiado.  Na presença marcante daquela fotografia, aquele rosto tão desejado, os cabelos revoltos e suas mãos querendo tocar. Uma força arrebatadora emanava daquele rosto, deixando-a perdida ali, por horas e horas a admirá-lo.
            Ela sabia que precisava reagir, voltar à vida. Mas para que? Queria ele, falando com ela todos os dias, não precisava de mais nada para ser feliz, e agora tinha nada vezes nada.  Todos os dias seguia uma busca na internet, quase um ritual. E a resposta era sempre a mesma: não localizado, não encontrado. Mas precisava fazer, era tão importante quanto respirar.  Quase não dormia, e quando acontecia sonhava com ele, e também sonhava acordada.
Seus dias passavam mecanicamente.  Realizava suas tarefas na internet, porque o trabalho ainda a mantinha com a mente ocupada e era o único momento que “quase” não pensava nele. O tempo andava lentamente, e nenhuma notícia chegava para acalmar seu dilacerado coração. Mas alimentava a esperança de que de alguma forma ele faria contato.  Um dia naquela semana, ao abrir os seus e-mails, deparou-se com um especial, e custou a acreditar, que Nicholas Castell o havia enviado em resposta à sua carta.  E-mail?  E por que não respondeu os e-mails que eu enviei?
Abriu o e-mail e à medida que ia lendo, as lágrimas rolavam silenciosas pelo seu rosto.  Quando chegou a última linha, voltou ao início e leu outra vez e outra, não conseguia acreditar no que estava escrito, e gritou:
- Canalha! Canalha covarde! Como pôde me excluir do seu perfil no Facebook? Se não queria nada, não desejava nada, podia ter dito, podia ter falado comigo. Eu o deixaria em paz! Uma raiva furiosa tomou conta dela, queria esbofeteá-lo naquele momento, pela covardia do ato infame.
- Covarde!  Homem não age dessa maneira!  Canalha! Covarde infame! Como será que ele fez?  Estávamos indo longe demais?  Indo aonde seu inútil covarde? Bastava me procurar e dizer que não queria mais falar comigo. Mas não, tinha que agir como um desgraçado.  E seu corpo tremia pelo choro compulsivo.  Estava morrendo de pena de si mesma, de ter sido enganada, e durante tantos dias, ficou ali, alimentando a esperança de voltar a falar com ele. Que tudo não passava de um engano, um erro na internet.
            Saiu do Gmail e foi para o Facebook procurar o procedimento de bloqueio.  Não sabia onde estava e clicava em todos os sinais que via pela frente.  Até que apareceu na tela: Como faço para impedir alguém de me incomodar? Você pode bloquear uma pessoa para desfazer a amizade com ela e impedi-la de iniciar conversas com você ou ver as coisas que você publica na sua linha do tempo.  Adicionar nome ou e-mail. Juliana ficou perplexa lendo aquelas palavras, sem conseguir acreditar em tamanha infâmia.
- Desfazer amizade?  Como pôde? Que porcaria de amizade que precisa de bloqueio?  Não é nada, não é amizade.  E logo depois que eu falei que o queria.  Canalha e covarde!  Ela gritava, e chorava; chorava mais e gritava, parecendo ser um pesadelo e que a qualquer momento acordaria e a vida estaria igual como antes.
            Assim permaneceu durante algumas horas, chorando e se lamentando.  Seu coração que já estava destroçado, agora sangrava.  O golpe fora muito forte e o desprezo e a rejeição é o que existe de pior.  Que nos joga para baixo, tão baixo, que fica quase impossível visualizar uma saliência, por menor que seja, para se agarrar e tentar subir. Depois de um longo tempo, levantou-se e se arrastando seguiu para o banheiro, onde lavou o rosto vermelho e inchado de tanto chorar.  Quando regressou à sala sua fisionomia marcada pelas lágrimas, estava endurecida pela raiva. E seguiu decidida para o notebook, dando a impressão de que iniciaria uma guerra, naquele momento.
            Verificou minuciosamente o e-mail dele, respondendo em seguida, chamando-o de insignificante e que ficasse com a sua vidinha medíocre.  Mas as lágrimas voltaram, não conseguia se afastar daquelas palavras, a maneira como escrevia era muito particular.  Fechou tudo e se jogou na cama, ficaria lá até secar, até chorar todas as suas lágrimas.
O tempo foi passando, e a raiva se apagando. O amor que sentia por ele parecia mais forte, e os sonhos se tornaram frequentes. Continuava alimentando os sentimentos, a saudade, o desejo, e não sabia o que fazer.  Incrível que ainda havia resquícios de esperança, uma determinação de reverter à decisão de Nicholas. Mas não sabia o que deveria fazer. Alternava momentos de raiva, pelo desprezo e rejeição, e outros de perdão pelo ato infame que o afastou dela. Poderia perdoar, e gostaria de esquecer.
Nada melhor que o tempo para curar as feridas e acomodar um coração destroçado.  E assim, a mente fica liberada para pensar em tudo o que aconteceu e talvez, quem sabe, encontrar uma solução, uma maneira de tudo ser como antes.  E Juliana passou a sonhar acordada.  E seus sonhos a levavam para longe dali. Devaneios e ilusões de uma mente apaixonada.
Sonhava em pegar um avião, buscar Nicholas na sua casa e leva-lo para uma linda casinha isolada.  Longe de tudo e todos, onde eles pudessem viver de amor e desejo. Ela adoraria poder cuidar dele, das coisas dele e se dar inteira para ele.   Ela sonhava acordada e enquanto dormia, e os sonhos começaram a se misturar e Juliana não sabia mais o que era real e o que era sonho.  Então, num feliz momento de lucidez, decidiu tomar cuidado e não se envolver demais com seus loucos devaneios.  E também resolveu tentar esquecer o que sentia pelo Nicholas.  Não queria mais pensar nele, e se entregou ao trabalho, com o firme propósito de esquecer aquele sentimento tão doloroso. Amor não dói.  Amor cura. Às vezes pensava nisso.  E às vezes também, pensava no desejo que aflorava em seu corpo, cada vez que se lembrava do seu rosto e das suas palavras, das músicas que ele gostava e que ela passou a ouvir.  Podia controlar os sonhos quando estava acordada, mas quando dormia, era impossível.  Sentia as belas mãos em seu corpo esonhava que estavam vivendo um amor pleno e intenso.
Depois de cinco meses, onde chorou, sofreu, foi rejeitada e desprezada, percebeu que estava muito bem, sentia-se forte, não pensava tanto nele, achou que estava pronta para esquecer. Enganou-se!  Ainda sentia a falta dele, saudade de conversar. O amor era tão forte, que se deu conta que poderia sentir o cheiro dele, da sua pele, sem nunca ter estado com ele. Sabia que seus perfumados cabelos revoltos eram macios e sedosos, e parecia que suas mãos já haviam tocado.  Olhava para a fotografia e sonhava estar com ele. Estava cheia de dúvidas, se o que sentia por ele era amor ou uma obsessão doentia.
            Juliana tinha momentos reais, onde aceitava o convite de amigos para sair e se divertir.  Sair ela até saia, mas dizer que se divertiu, não poderia.  Mas eles faziam muitas perguntas e não pretendia contar o seu segredo para ninguém.  Iriam dizer que ela era maluca, que estava doente, ninguém se apaixona apenas por uma fotografia. Era seu segredo.  E ninguém ficaria sabendo que ela tinha uma vida dupla.
            Durante o dia ela trabalhava normalmente, se envolvia com o trabalho e afastava o seu pensamento do Nicholas.  Mas a noite, ela se jogava no mundo dele, ouvia as músicas que ele gostava, olhava as fotografias e fazia planos.  Sonhava em encontrar com ele, leva-lo para uma casinha isolada para viverem felizes.
            Juliana estava decidida a economizar cada centavo, e resolveu que não sairia mais com os amigos para evitar os gastos.  Não precisava de roupas, trabalhava em casa e compraria somente o estritamente necessário. Nas suas horas de folga começou a pesquisar locais mais ou menos isolados, dando preferência por praias, com casas simples, sem luxo algum.Tinha um sonho, e se esse sonho lhe dava forças para viver, ele seria alimentado todos os dias.  
            Ainda se perguntava o que ele tinha de tão especial, para que ela se envolvesse tão profundamente.  Nunca se encontraram pessoalmente, não tinha voz, não tinha cheiro, não tinha gosto.  Lembrou-se de quando se conheceram, do inicio da amizade, da empatia recíproca.  Recordou todas as conversas, olhou o que ainda tinha de mensagens, pois num momento de raiva havia excluído quase tudo.  A maneira de escrever era encantadora, como colocava as palavras numa frase, o sotaque se acentuava e tudo virava música.  O belo rosto de traços marcantes, os cabelos revoltos, a boca sedutora de sorriso ausente.  Não tinha nenhuma fotografia onde ele sorria.  Todas eram sérias, com aquela linda boca de lábios selados.
            Agora que a decisão havia sido tomada, estava se sentindo mais forte.  Nada nem ninguém iria afasta-la de seu objetivo.  Não sabia como faria mas tinha certeza que encontraria com Nicholas.  Poderia demorar algum tempo, precisaria ter paciência, mas estava se sentindo bem e tinha um sonho.  Tudo poderia acontecer, até esquecer-se dele, acabar o que sentia, da mesma maneira que começou, poderia terminar. Se para ser feliz precisava sonhar, com certeza sonharia muito, viveria de sonhos, até o dia em que pudesse realizar o sonho que tinha, de encontrar o seu amor!
           
Autora
Nell Morato



quarta-feira, 22 de outubro de 2014

QUEM CONTA UM CONTO...CONTA A CINCO MÃOS - PERDÃO...A QUEM BENEFICIA?



PERDÃO... A QUEM BENEFICIA?

Perdoar e desculpar têm o mesmo significado no dicionário. Mas sentimos e agimos de maneira diferente, as palavras têm pesos diferentes.  Desculpar, usada para as pequenas faltas, como um esbarrão em alguém, furar uma fila, interromper a conversa com outras pessoas, enfim, pequenas faltas acidentais. E sempre desculpamos, normalmente com um sorriso. Como o peso da falta é leve ou acidental, dificilmente se guardam mágoas ou rancores. E tudo fica resolvido. Perdoar tem um peso maior, porque remete a erros mais graves, que implicam dores e sofrimentos.
A palavra perdoar significa doar mais, doar além, e é isso que o perdão significa: conseguirmos ir além do nosso orgulho e egoísmo, e amar. O perdão é um exercício de amor, ao próximo e a si mesmo também, porque quando nos livramos do remorso, estamos praticando o auto perdão. 
Perdoar é o modo mais sublime de um ser humano crescer. Pedir perdão é o modo mais nobre de se reconhecer o erro. Somos humanos, limitados e sujeitos a erros sempre. Quando erramos, devemos ter a humildade de reconhecer o erro e a nobreza de pedirmos perdão, porém, perdoar não é algo fácil, dependendo da falta, diríamos que, às vezes, o perdão pode parecer impossível!
Muita gente pensa que perdoar é esquecer, nunca mais lembrar, fazer de conta que não aconteceu, mas isso não é verdade, pois, a menos que sofrêssemos de amnésia, os fatos que nos marcam a existência, felizes ou infelizes, nunca serão esquecidos. Para muitos, perdoar se limita a nunca mais querer ver alguém que lhe magoou ou não mais querer ouvir falar de determinado assunto, todavia, a mágoa permanece... E haverá sempre um impeditivo para que a paz possa reinar no coração. Na verdade, o perdão só acontece, quando conseguirmos ver a pessoa que nos ofendeu, conseguirmos nos lembrar da situação que nos causou dor e este fato não mais nos malsinar, não causa mais nenhum desconforto, quando isso acontece, é porque conseguimos perdoar de fato.
Outro fator importante a considerar é que o perdão deve ser incondicional, grandioso, porque se o fizermos impondo condições, não é verdadeiro. Perdoar, portanto não depende dos fatos, e, sim, da nossa intenção.
Perdoar e pedir perdão, ambas situações são exercícios de humildade. Quem de nós nunca errou? Quem de nós nunca precisou perdoar? Devemos aprender a pedir perdão, mesmo sabendo que possa ser tarde demais, mesmo que corramos o risco de ouvir do outro a negação para o nosso pedido. Aí o problema já não será mais nosso, porque fizemos a nossa parte, demos o primeiro passo, nos liberamos da energia negativa do remorso. Mesmo que a dor da negação do perdão permaneça, pois, normalmente, magoamos àqueles a quem amamos. Porém, é importante dar o primeiro passo, abrir a porta do coração ao amor redimido. O resto fica por conta do tempo.
O perdão, é bom que se esclareça, também não é uma palavra mágica, não basta dizer: perdoo e tudo fica bem. O perdão é, antes de tudo, um exercício. É um processo, onde devemos trabalhar o nosso coração com as tintas da humildade e amor, para conseguir êxito.
Perdoar, dependendo da falta, é muito difícil, pois precisamos vencer o orgulho e a vaidade. Precisamos, antes de tudo, pensar no outro, não só na atitude. Só é possível perdoar verdadeiramente, se a importância que o outro tem para nós vem em primeiro lugar.  Quando somos nós os feridos, quando a decepção ainda dói na nossa alma, fica difícil e quase impossível, se falar de perdão. A mágoa cega os olhos da alma, alfinetando nosso ego, minando-nos as forças.
Com o tempo, e os acontecimentos que na vida surpreendem sempre, se nos propusermos a perdoar, aos poucos esse sentimento vai ganhando força e passamos a ver com mais clareza o efeito benéfico do perdão.
Uma coisa importante que deveríamos pensar é que a falta de perdão, a mágoa, o ódio que guardamos da pessoa que nos feriu, prejudica, primeiramente, a nós mesmos. Manter esse sentimento na alma é como guardar lixo no bolso. A alma precisa de leveza para prosseguir, e a mágoa e o ódio são fardos pesados demais que acabam por adoecer o corpo físico, feito para amar e ser amado. Então, perdoar é, na verdade, um benefício em causa própria. Faz bem a alma, faz bem a saúde e a beleza.
Algumas atitudes das pessoas fogem ao nosso entendimento, a nossa compreensão, e o nosso primeiro impulso é condenar. No entanto, se há um amor maior, ele nos leva ao perdão, não importando se esse alguém é muito próximo, se é distante ou mesmo alguém que nem conhecemos e também não importando qual grave e doloroso tenha sido o mal que nos causou. O caminho que nos leva a alcançar a sabedoria desse amor que nos leva ao perdão é, muitas vezes, espinhoso e solitário.  O perdão é a grande demonstração de amor ao próximo.
Encontramos exemplos grandiosos de atitudes de perdão para nos espelhar:
O Papa João Paulo perdoou Ali Agca, o seu quase assassino e ajudou-o a se regenerar, Mohandas Gandhi abençoou aquele que lhe desferiu o tiro mortal. 
Jesus, ainda no infamante madeiro, sob os estertores da morte, voltou os olhos ao Pai Celestial, rogando perdão para a Humanidade, pois não sabíamos o que fazíamos! Eis a máxima grandeza do perdão!

“O perdão é, em qualquer tempo, sempre um traço de luz conduzindo a nossa vida à comunhão com Jesus." (Meimei) 

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

ESPECIAL E INESQUECÍVEL



Especial e Inesquecível

Vólia Loureiro do Amaral



Faz tempo menina,
Que quero te ensinar
O sentido da palavra
“especial”.

Você pode pensar
Em algo incomum,
Alguma coisa sensacional,
Mas eu vou te ensinar
O que é especial.

Você espera algo que choque,
Que abale os sentidos,
Que seja irresistível,
Oh não! Você tem de entender
O que significa ser especial.

Especial é quando toca o coração,
É quando faz nascer a ternura,
É quando sentimos o coração
Tranqüilo por uma simples
Lembrança.

Especial é quando sorrimos
Ao lembrar,
É quando ouvimos música
Ao pensar.
É quando a saudade faz você chorar.

Especial é quando é doce,
É como um belo por de sol.
É como um bom café, numa noite fria,
É como observar uma rosa molhada
Do orvalho da manhã.

Especial é quando queremos que
O tempo pare para que dure um
Pouco mais.
É como ver o mesmo filme
Mil vezes e ainda
Chorar de emoção.

Especial é aquilo
Que ficará pra sempre
Guardado num cantinho
Do coração.

 (Todos os direitos reservados)

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

QUEM CONTA UM CONTO... CONTA A CINCO MÃOS - INFÂNCIA... TEMPO DE SONHOS




INFÂNCIA... TEMPO DE SONHO

Tempos mágicos de sonho e alegria, a infância é a mais encantadora e completa fase da vida. Tempos em que somos livres e podemos ser o que somos, sem precisar de máscaras. Tempo em que o céu não é o nosso limite, pois podemos ir além, pelo sonho. É assim que deveria ser a infância para todos.
Alguns cheiros, sons, sabores, nos remetem à infância... Cheiro de terra molhada lembra o andar descalço na enxurrada, sentindo qualquer insatisfação sendo levada embora, banho de alma, andar na chuva... Cheiro de inocência. Cheiro das manhãs de primavera, mil perfumes misturados pela brisa fresca... Cheira a tranquilidade. Perfume de café torrado, de quitutes e quitandas lembram sorrisos de mães, tias, avós, juntas, amassando, sovando, modelando as massas que se multiplicavam nos fornos e fogões, e eram sempre sinais de alegria e prazeres, união e cumplicidade, respeito e valores cultivados... Cheiros de pureza e simplicidade nos altares das igrejas, fé e devoção sagrados. Infância, para alguns, tem, em lembranças tantas, o sabor das delícias de um bolo de fubá, feito com amor pela vovó. Flores nos jardins exalavam a gentileza de uma muda; verduras e frutas nos quintais, cheiravam a generosidade, do agrado, do abraço, da amizade, do agradecimento... Lençóis limpos cheiram a sono sem preocupações, povoados por sonhos inocentes, ungidos por bênçãos de boa noite e de bom dia. O som do realejo, dos gritos de alegria, das cantigas de roda, as canções de ninar... Cheiros e sons que nos levam à infância mais pura, onde havia liberdade de ser, de dividir, de dar e receber afeto.
Tempo em que tudo parece perfeito! Ser criança, ter inocência, tempo de saudades, onde não havia maldade em nada, onde a grande preocupação era saber se os amigos poderiam sair para brincar! A infância é o amor que desconhece a falsidade!
Quem nunca brincou com uma caixa de papelão como um mundo alternativo? Voando em sua nave espacial, fazendo uma casinha para bonecas, prancha para escorregar na grama? Quem nunca brincou de pique-esconde, carrinho de rolimã, salada mista, jogo de dominó, queimado, campeonato de cuspe, arroto à distância e amarelinha? Quem não o fez, não sabe o que perdeu...
Quem nunca imaginou que a Lua era um grande queijo suíço? Que o barulho do trovão era causado por São Pedro arrastando os móveis do céu, porque estavam fazendo uma faxina lá em cima? Quem nunca sonhou em encontrar uma lâmpada mágica e, ao esfregá-la, encontraria um gênio? Ou que se cavasse um buraco bem fundo chegaria no Japão? Quem não imaginava que no século XXI os carros voariam como no desenho The Jetsons? Acreditávamos em sacis, em fadas, em bruxas, em Papai Noel... Tínhamos medo do monstro que morava dentro do armário ou que se escondia debaixo da cama! Medo de fantasmas!
Era assim a infância há algum tempo atrás, quando, livres de ódios ou preconceitos, brincávamos com a nossa bola de meia, com o cavalinho de pau, as bonecas de pano, acreditávamos em fadas e tínhamos amigos imaginários. Não havia a necessidade de se comprar tudo, havia mais doação, partilha solidariedade.
A vida mudou. O mundo mudou, mas, alheia aos perigos que a cerca, brinca, ainda, a criança. Inserida em uma realidade diversa da de antigamente, onde as bonecas e bolas de meia foram substituídas por brinquedos eletrônicos, celulares, tablets, presa dentro dos apartamentos, mas ainda assim, criança.
Um adulto equilibrado, quase sempre, nos diz que a sua infância foi feliz. Foi amado educado por seus pais, que não mediram esforços para estarem sempre presentes em todos os momentos do seu desenvolvimento. Foi criado com liberdade, com diálogo, respeitando a Natureza e todos os seres vivos. A criança absorve os ensinamentos e os exemplos que tem em sua família.  Infelizmente não é assim para muitas pessoas. Há aqueles para os quais a infância é lembrada como uma época de abandono, de sofrimento e medo. Há crianças que são abusadas, maltratadas. Há crianças que não têm direito à infância e passam o resto de suas vidas como pessoas incompletas, infelizes.
A infância deve ser protegida, pois é uma fase importantíssima para o desenvolvimento do ser. Toda criança deve ter o direito de brincar, de sonhar, de se expressar. A inocência e a ingenuidade pedem abrigo nos olhos de uma criança. Os pais hodiernos lançaram as suas ansiedades e ambições sobre os filhos e as crianças perderam o direito de serem crianças e vivem tão cheias de compromissos ( balé, escola de línguas, escola de arte, etc.), que não sobra tempo para brincar livremente, para sonhar.
Outro problema que se observa na atualidade é a sexualização cada vez mais precoce das crianças. Hoje em dia crianças com doze anos iniciam a sua vida sexual, sem nenhuma informação a respeito da responsabilidade, dos riscos. Isso é consequência da mídia que traz o sexo para os brinquedos (basta reparar no físico das Barbies), nos jogos, nos programas de TV, comerciais, desenhos, é principalmente consequência da transferência de papel de educação dos pais para os professores. Os pais devem compreender que não são meros provedores, mas responsáveis pela saúde física, moral e mental de seus filhos. Não devemos pular etapas, tudo tem seu tempo certo de acontecer, tudo precisa acontecer naturalmente, com a criança se adaptando às mudanças. Em todos os casos o diálogo é uma ferramenta importante, pois ela precisa saber como é e o porquê de tudo o que acontece em sua vida.  Deve crescer livre dos rótulos, dos preconceitos e do medo (característica dos adultos). Não basta dizer: “não é coisa de criança”, em se tratando da vida dela, é coisa de criança sim! É preciso diálogo e informação.
Não podemos negligenciar o futuro que, se bem idealizado, fará da criança de hoje o bom cidadão do amanhã. A ciranda da vida não para de girar, e os nossos pequeninos, aos poucos, alçarão voos, que podem ou não, ter rota segura.
Infância é viver o lúdico, ser livre, andar sem receio pelo mundo tão repleto de pegadas cruéis. A infância precisa ser educada, protegida, resgatada, para que tenhamos adultos completos, felizes e realizados. Cuidar e proteger a criança é a nossa obrigação!
“Quem vê, serena,
À beira de uma estrada
A árvore frondosa.
Não imagina o quanto
De Sol, de chuva , de seiva bruta
Foi necessário para realizar
O milagre da natureza.
Quem vê parada,
À porta de uma escola
Uma criança,
Não imagina o quanto
De amor, carinho e paciência
É necessário para fazer dela
Um homem ou uma mulher
De verdade.”
(Célia Passos)

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

QUEM CONTA UM CONTO...CONTA A CINCO MÃOS - AMIGO, OPÇÃO DO CORAÇÃO



AMIGO, OPÇÃO DO CORAÇÃO

A amizade é o amor mais bonito. Nasce de forma sutil, por identidade de gostos, de objetivos, simpatia inexplicável. Quem escolhe é o coração. Às vezes, a escolha é imediata, em outras é mais devagar, demora um tempo enquanto vai se firmando, criando afinidades. Pode se iniciar em qualquer época da vida: existem as amizades de infância, as que haurimos na adolescência, na fase adulta, na idade provecta, isso não tem importância. O importante é que ela exista. Algumas duram um tempo; outras, a vida inteira...
A amizade é o amor puro, sem interesse, sem os conflitos gerados pelo amor romântico. É uma conquista preciosa, de valor inestimável e, como tal, precisa ser preservada. É um misto de dedicação, afeto e confiança. Quando verdadeira, é um amor mais resistente, que contorna os caminhos mais difíceis sem se abalar, entendendo a sofreguidão e a calmaria. É um bem querer com leveza, sem a urgência do estar próximo fisicamente, se bem que ter um ombro amigo presente é algo gratificante, mas , podemos construir belas amizades à distância. É o afeto que entende as necessidades, e mesmo distante, ouve o coração angustiado do outro ou capta a sua alegria, apenas pela vibração do tom de voz.
Amigos são aqueles para quem sempre esteve reservado um lugar nos nossos corações. As pessoas não entram na nossa vida por acaso, e não é por acaso que elas permanecem. Os amigos são irmãos que partilham e se alegram com as nossas conquistas; conhecem-nos profundamente, entendendo o nosso estado de espírito apenas pelo timbre de nossa voz, ou pelo brilho do nosso olhar, que nos socorrem nas aflições, nos dizendo verdades, embora doídas, pois nos amam com amor incondicional, gratuitamente, sem querer nada em troca. É o amor que abriga, acolhe, mas também adverte,critica, aponta os nossos erros, mas o faz com palavras suaves e com sensatez, sempre tendo um “eu te amo”, para nos dizer após as broncas.
Fazer amigos é muito fácil, complicado é mantê-los. A amizade requer alguns requisitos para ser conservada. Alguns parâmetros devem ser observados para que possamos compreender e viver uma amizade: o primeiro é o respeito, não pode haver amizade sem ele. É condição “sine qua non”. O segundo é a confiança, só consideramos amigos aqueles em quem confiamos; o terceiro é a admiração, é ela que propicia a aproximação daqueles a quem queremos conquistar a amizade; segue-se o carinho, a disponibilidade ( nada mais chato do que um amigo indisponível). Tudo isso nos leva a construir esse amor tão lindo chamado amizade.
Muitas vezes, na nossa vida, ocorrem fatos ou situações catastróficas, independente da nossa vontade. Caímos ou somos derrubados; precisamos encontrar forças para levantarmos e continuarmos a andar. Mas, onde buscar forças? Se você tiver um amigo saberá onde buscar... Conhecidos, temos muitos, mas bem poucos são os amigos de verdade.
Amizade é a forma plena de amar alguém que veio de mansinho e ganhou lugar cativo em nosso coração. É a soma de experiências e conquistas. Devemos escolher os amigos não pela cor da pele, posição social, idade, beleza, ou qualquer outro arquétipo, mas escolhê-los pela beleza da alma, bondade do coração, palavras e atitudes. Amizade não é só a mão estendida, nem aquele sorriso afável, nem mesmo o prazer da companhia. É a inspiração espiritual, que acontece quando se descobre alguém que acredita e confia em você e isso é recíproco. É algo celestial, encontrar um amigo assim.
A amizade faz a gente chorar pela sua falta, pela ausência do ombro amigo. Choramos por decepção, quando descobrimos que aquele amor não era verdadeiro como gostaríamos... Mas, choramos também de alegria, quando o coração salta de contentamento pelo simples prazer de pensar na antecipação do encontro com aquele a quem elegemos como irmão de alma.
“- Se vens às quatro horas, desde as três o meu coração já se alegra...” disse a raposa ao Pequeno Príncipe. Amigo é aquele que tem o coração cativo, porque sabe que o amor é para sempre!

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

QUEM CONTA UM CONTO... CONTA A CINCO MÃOS - PRECONCEITO A CEGUEIRA DA ALMA



PRECONCEITO, A CEGUEIRA DA ALMA

O olhar que não vê por dentro...O olhar do preconceito. Pesam as imposições, os tabus, as regras ditadas por gerações após gerações, por culturas equivocadas, que não se abrem a outros horizontes.
Preconceito é o conceito preestabelecido sobre alguma coisa. Tão antigo e nos parece sobrando nesse mundo globalizado, onde a tecnologia domina quase tudo e todos. Mas não está sobrando, está forte, enraizado em algumas pessoas.
“Mais fácil desintegrar um átomo do que acabar com um preconceito”, já disse o grande físico Albert Einstein. Imagine como seria chato se vivêssemos em um mundo onde todos fossem iguais; se vestissem iguais, pensassem iguais, agissem da mesma forma. Certamente o progresso não teria acontecido e a Humanidade não existiria mais na face da Terra. Sim, porque as diferenças são responsáveis pelo progresso, pelas mudanças. Tememos o que é diferente, o novo, o inconsciente nos faz querer permanecer na zona de conforto do conhecido, então o que é desconhecido nos incomoda. Eis a origem do preconceito.
O preconceito está embutido sutilmente nas pequenas atitudes, em conceitos considerados normais e muito comuns, não tidos como ofensas, mas, apenas opiniões. Seja como for, preconceito é irracionalidade, ignorância e maldade humana. Discriminação gratuita e sem fundamento, somos todos iguais, não importa a cor da pele, a idade, a orientação sexual, a religião, a origem, o aspecto físico. Como achar que temos o direito de segregar, separar por classes quem caminha conosco? Não somos juízes de nada, nem de ninguém.
Pessoas preconceituosas não têm fundamentos em suas ideias, são tolas o suficiente para apenas se aceitarem. Não percebem que o mundo não gira apenas em torno de si, aceitam o que lhes é semelhante e aquilo que é diferente, que não faz parte do seu conhecimento, que não é usual, é logo taxado de errado, de pecado e rechaçado pelo preconceito. Isso demonstra pequenez espiritual.
É muito fácil identificar o preconceito na conduta alheia, julgar o que o outro pensa. Mas, quando se trata de identificá-lo em nós, a coisa muda de figura, porque sempre encontramos desculpas para considerar as nossas atitudes e julgamentos como  justos e normais. Até nisso somos preconceituosos!
O preconceito muitas vezes é fruto da nossa preguiça mental e da nossa acomodação. Muita gente tem preguiça de pensar, de procurar entender uma situação e só então fazer juízo do fato, preferem seguir a maioria, acreditando erroneamente no velho dístico: “ A voz do povo é a voz de Deus”. Enquanto isso, uma minoria, que pensa, acaba ditando os costumes, sejam eles bons ou ruins. Esbarramos em atitudes preconceituosas, ofensivas, o tempo inteiro e, no entanto, muitas vezes, só levantamos a bandeira quando a maioria se impõe, quando seremos notados e a nossa opinião será questionada também.  Já é tempo de usarmos a razão e entendermos que preconceito, além de burrice, é crime!
Existem leis que punem a discriminação, embora quando cheguem a buscar à Justiça, as vítimas do preconceito já tenham sido massacradas e humilhadas. Medidas preventivas, educação e conscientização são necessárias no combate a esse mal. É preciso muita cautela para que não se prejudique ainda mais às vítimas.  Acabar com o preconceito exige paciência e tempo. É imprescindível perceber que a vida só é bela por conta da diversidade e que ninguém tem o direito de ditar a forma de ser do seu semelhante. É imperdoável classificar as pessoas pelas suas diferenças. Cada um tem o seu lugar no Universo e tem algo de bom a ensinar.
A ignorância que alimenta a falsa ideia de que uma pessoa é superior à outra, é a mesma que leva à morte e destruição de muitas vidas. Todos nascem crianças igualmente inocentes e puras. Aprendamos a amar o nosso próximo aceitando-lhe as diferenças. Vamos dizer não ao preconceito é construir um mundo melhor, pois o respeito à diferença é condição essencial à evolução.

Fiquemos com a lição do Nélson Mandela: “A única arma para melhorar o planeta é a Educação com ética. Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor da pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.”